Eu tinha tudo. Nada me faltava, sempre o que eu queria eu
tinha. Mas chegou um dia em que resolvi requerer o que era meu e seguir o meu
destino, seguir o que eu achava ser melhor e mais prazeroso pra mim. Nada me
faria mudar de ideia naquele momento, a decisão já havia sido tomada.
- Pai, quero minha parte da herança.
- Tem certeza meu filho?
- Sim, cansei de trabalhar pra você. Quero viver do modo que
eu quiser agora.
- Tudo bem, meu filho. Toma tua parte da herança.
E foi assim, cheguei a meu pai e requeri minha herança e
mesmo sem ainda ter direito a ela, ele me concedeu. Alguns dias depois juntei
tudo e parti. Fui pra bem longe, queria estar distante de tudo aquilo que
lembrasse a minha vida antiga. Queria algo novo, aventuras novas.
Ao longo da jornada conheci muitas pessoas. Encontrei prazeres que eu nem imaginava existir e aquilo me fascinava cada vez mais. Por onde eu passava esbaldava-me em bebidas, drogas, mulheres e tudo mais que satisfizesse minha vontade e viesse a encher meu ego.
O que mais eu poderia querer? Tinha tudo como eu queria. Vivia a vida como imaginava ser melhor pra mim. Festas, sexo, álcool e drogas. Essa havia se tornado minha rotina, minha vida. Porém, chegou um dia em que minha herança acabou. Aquela herança que meu pai havia me concedido chegou ao fim e eu estava sem nada. Sem nenhum tostão vi meus grandes amigos desaparecerem um por um. Fiquei sozinho e sem nada. Fui caindo num abismo e nem tinha esperança de que ele tivesse um fim. A solução era procura um emprego, pelo menos assim eu conseguiria algo pra comer. Procurei por toda parte e o máximo que consegui foi cuidar de animais. Eu tinha que limpar o local onde eles ficavam dar comida a eles e lavá-los. E muitas vezes ali eu era humilhado. Aqueles animais tinham mais valor do que eu! Havia dias em que eu tinha que comer o mesmo alimento destinado a eles.
Eu continuava a cair no abismo. E cada vez ficava mais escuro e frio. Estava cada vez mais difícil suportar. A solidão me consumia e a única coisa que às vezes, ainda que de forma passageira, me consolava, era a lembrança dos dias junto a meu pai. E foi num desses lapsos de lembrança que decidi quebrar meu orgulho, voltar e pedir um emprego a meu pai, afinal ele tinha tantos funcionários e eles comiam e viviam muito melhor que eu naquele lugar. E eu tinha certeza que meu pai me daria um emprego mais digno do que aquele que a muito eu estava fazendo. Voltei. Pra minha surpresa, ao chegar à casa de meu pai ele me recebeu de braços abertos, com uma alegria imensa. Eu não conseguia entender o porquê dele me receber daquela maneira. Eu havia tomado minha parte da herança antecipadamente, desobedeci a ele, gastei levianamente tudo o que ele havia me dado e ainda assim ele me recebe com festa e munido de uma compaixão imensa.
- Fiz o que era errado aos seus olhos, pequei e não sou
digno de ser chamado seu filho.
- Você estava morto e voltou à vida. Havia se perdido, mas
foi achado.
- Trata-me como um de seus empregados...
Nesse momento meu pai me abraçou e pude sentir todo amor,
perdão e misericórdia que ele teve comigo. Eu havia sido perdoado. Estava de
volta à casa de meu pai e junto a ele! Da escuridão a luz. Da morte a vida. Meu
pai me recebeu de volta e agora vivo esperando o momento certo de receber dele
o galardão, a herança que me cabe.
Errei ao requerer minha herança e sair da casa do meu pai. Pequei, mas ao reconhecer meu erro, humilhar-me diante do meu pai, fui perdoado e tudo de ruim e errado que havia feito foi esquecido. Hoje estou de volta à casa do meu pai e vivo como filho d’Ele!
Pedro Fleury.
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